Há dois meses da eleição (marcada para 27 de outubro), a briga pelo controle da gestão da Feira do Guará ganha contornos acirrados, com possibilidade de esquentar ainda mais daqui pra frente. No sábado passado, 26 de agosto, a feira foi agitada com o lançamento da chapa de oposição, que pretende desbancar o grupo do atual presidente Cristiano Jales, no comando há 12 anos. A briga promete ser quente porque a situação também vai apresentar sua chapa, com o apoio do atual presidente, que prefere não concorrer à reeleição.
A chapa de oposição acusa Cristiano de centralizador, por não dividir as decisões sobre a feira com os feirantes, de falta de transparência na prestação de contas, incluindo as dívidas, e falha na gestão ao não promover as reformas necessárias. Embora tenha um candidato a presidente, a chapa de oposição foi idealizada e montada por Renê Ramos de Souza, filho da proprietária do Café Dona Neide, e pelo o ex-administrador regional do Guará, Edberto Silva. Como é presidente de outras instituições, Renê preferiu não participar da chapa, que tem Alexandro (Alex) Fernandes de Meneses como candidato a presidente, e Denilson Rodrigues de Oliveira como vice. Alex é filho de um dos primeiros ocupantes da Feira do Guará e feirante há dois anos, e Denilson garante que foi criado e convive na feira há 53 anos, onde é proprietário de uma banca.
Renê, Edberto, que foi contratado como espécie de “consultor da chapa” como ex-administrador e ex-feirante, Alex e Edmilson afirmam que resolveram montar a chapa de oposição para conhecer a situação econômica da Associação dos Feirantes, que, segundo eles não é divulgada de forma transparente, as dívidas de todo espaço com impostos e o governo, e o risco dos feirantes ficaram sem energia e água por inadimplência com as concessionárias.
Promessa de gestão transparente
“Queremos fazer uma gestão transparente e que todos os feirantes participem e resgatar o bom nome da Feira do Guará, que ultimamente tem aparecido na mídia mais por seus problemas”, diz Alexandro. “Há mais de dois anos estamos tentando descobrir realmente o que está acontecendo com a gestão da Associação dos Feirantes, que está com suas contas bloqueadas, sem divulgação da prestação de contas, que deixou a feira com risco de ficar sem energia elétrica, com banheiros precários, falta de acessibilidade, falta de divulgação”, completa Edberto Silva, que foi administrador do Guará nos primeiros quatro meses do Governo Rodrigo Rollemberg, em 2015. “Quando fui administrador regional, comecei a conversar com todos os feirantes e com a própria associação para tentar resolver essas questões, mas como tive que deixar o cargo, não foi dada continuidade. Mas hoje, oito anos depois, continua tudo do mesmo jeito, ou até pior”, completa Edberto.
Renê Ramos conta que um grupo de feirantes, liderado por ele, entrou na justiça para obrigar a Associação dos Feirantes a abrir todas as contas para conhecer o “tamanho do buraco”, mas a ação ainda não foi julgada totalmente. Enquanto isso, eles defendiam o afastamento de Cristiano. “O juiz da causa entendeu que era “uma briga de condomínio e que não caberia interferência externa”. Recorremos ao Governo do Distrito Federal com um documento mostrando todas as mazelas, inclusive contamos com a intermediação do então deputado distrital Rodrigo Delmasso, até as que coisas ficassem esclarecidas, mas também ainda não tivemos retorno”, afirma Renê.
Atual presidente vê “motivos pessoais”
Pelo outro lado, o presidente da Associação dos Feirantes da Feira do Guará há 12 anos, Cristiano Jales refuta as acusações da chapa de oposição e credita as críticas a “motivos pessoais contrariados”. “A maioria dos componentes da chapa de oposição é de quem deixou a atual diretoria por não conseguir me manipular como pretendia. E por outra parte que tem outros interesses”, ataca. “A principal prova que não há irregularidade é que nem a Justiça e nem o governo reconheceram as reclamações deles. É uma guerra contra mim e não para defender a feira e os feirantes”, acusa.
Em relação às dívidas da feira e da Associação, Cristiano diz que a principal delas, de cerca de R$ 7 milhões, são ações trabalhistas que vem rolando desde a criação da associação, em 1999, e parte delas continua sendo contestada ou negociada. A situação da energia elétrica, segundo o presidente, depende da individualização das bancas e junção dos dois transformadores que atendem às duas alas, providência que terá que ser tomada pelo governo, mas já em andamento, para concluir a negociação do passivo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Neonergia.
Enquanto o clima esquenta, Cristiano prepara o lançamento de uma chapa com seu apoio, presidida por Valdinei Vasconcelos, que começou criança fazendo “frete” com carrinho de mão, transportando hortigranjeiros dos clientes para o estacionamento, e é feirante há mais de 30 anos.
Cobrado pela chapa de oposição a tomar uma decisão sobre as denúncias de irregularidades, o administrador regional Artur Nogueira afirma que não vai se envolver porque não tem como saber quem realmente está com a razão. “Encaminhei o assunto para a Secretaria de Governo e a Secretaria de Cidade para que lá tenha o encaminhamento. Acho que ficar como está é que não pode. A feira e os feirantes padecem com esses problemas de gestão e brigas internas”, afirma.