Crônica: O Guará voltou! – por Everardo de Aguiar Lopes

Um cometa luminoso aproxima-se da Praça. Na quadra em que eu brincava, o cometa me seduziu. A bola, com medo daquele negócio estranho e um rabo de fogo, parece que criou vida e correu até a rua.

O pipoqueiro tirava o boné com o símbolo do Flamengo, que estava cobrindo a careca, e batia na coxa direita, tirando a poeira que o cometa soprou. O Guará voltou. Os cheiros que vêm da alma, trazendo novidades, me levam até o colo da mamãe. O sabor é das estrelas, a consistência de nuvens do bom e tradicional algodão doce. Mulheres e homens, crianças, meninas e meninos, velhas e velhos, saem da janela, do quarto e da cozinha para lançarem os segredos até o universo. O cometa luminoso aproxima-se da quadra onde tu brincavas, e o cachorro de pelos brilhosos e macios ficava quieto só a ouvir o som das flores desabrochando com o orvalho à espera da luz do sol.

A praça transpira gente, que inspira borboletas a baterem asas ao som do poeta engajado no circo da vida. O Guará pula de alegria à sombra das nuvens grafitadas por um coração leve das histórias contadas e ouvidas na caixa.

Piano, violão, atabaque, surdo, azabumba, tamborim, cavaquinho e violino, guitarra, bateria e a flauta transversal, o bom saquese e meus olhos fechados a cantar. O Guará voltou, e o museu continua de portas abertas para guardar as travessias. O Guará voltou, e 2100 tá ali na esquina do CAVE, que arrancou aplausos e jogou longe como poeira de histórias ruins que a ganância de paletó e gravata manchada da baba queria sufocar. O Guará tá aqui, ali e acolá, o Guará está em todo lugar. O Guará voltou pra brilhar de manhã, tarde e à noite. Shows, bailes, brincadeiras, fluxos e uma cerveja com o sabor do quinto beijo apaixonado pelo circuito com saias coloridas e rodadas. O Guará voltou multicores no coração e branco e preto na cabeça. O Guará voltou de chinelo, chapéu e óculos escuro, três peças fundamentais para a festa só parar quando terminar.

O Guará voltou de ponta a ponta, entra pela feira e só se ouvem gritos de alegria e quando abrem os sorrisos é capaz de engolir até o metrô.

O Guará de artistas femininas e o mulheral são a prova disso. A volta que você faz com passos firmes é como um laço que segura nas pontas para não escorregar na casca de banana. O Guará voltou para brilhar, cantar e brigar com a voz baixa que até o gigante treme. O Guará voltou, esse é seu lugar.