Dengue começa a reduzir no Guará

Conscientização dos moradores e intensificação de ações do governo ajudam na redução, mas números ainda são preocupantes

Os números ainda são preocupantes, mas, por outro lado, trazem um certo alívio para os moradores do Guará. Os casos suspeitos de dengue na cidade caíram de 2.318 em fevereiro para 1.965 em março. Em janeiro foram 1.350 casos, o que indica que houve um pico em fevereiro e um declínio a partir de março, no que os técnicos chamam de “platô”, quando há uma tendência de estabilização para queda. A própria Secretaria de Saúde já havia informado que março seria o mês mais crítico e que haveria uma desaceleração da doença a partir de abril, quando as chuvas no DF começassem a escassear, embora ainda tenham sido intensas neste início de mês.
Além da redução das chuvas, outros fatores tem contribuído para a diminuição dos casos de dengue no Guará, que já chegaram a 5.645 notificações de janeiro até esta quinta-feira, 4 de abril. A principal delas foi a intensificação das ações dos órgãos de saúde do governo na cidade e depois a conscientização – ou medo – dos moradores, que passaram a cuidar do seu próprio terreiro para a evitar a proliferação do mosquito transmissor. Para a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, Herica Cristina Marques, a situação ainda é preocupante e essa redução não pode provocar acomodação dos moradores. “Mesmo com todas as campanhas de conscientização, tem muita gente que ainda não entendeu a gravidade da doença e continua relaxando nas medidas de saneamento do seu ambiente. O morador não pode ficar esperando apenas o governo agir e precisa fazer sua parte”, recomenda. “O que a população também precisa saber é que a maior incidência no Guará tem sido a do Sorotipo 2 (são 4 variações), a mais agressiva e de maior risco de agravamento e morte”, explica.
Para reforçar o alerta de Herica, a chefe do Núcleo de Vigilância Epidemiológica e Imunização da Região Centro-Sul, Rosimeire Brandão, lembra que já aconteceram 12 mortes provocadas por dengue entre moradores do Guará de janeiro a março, contra apenas três nos dois anos anteriores. “O morador precisa ser seu próprio fiscal, conferindo calhas, caixas d`água, lixo e outros pontos que podem ser transformados em criadouros do Aedes aegypti. Basta fazer um check list e conferir todos os dias. É simples e funciona”, recomenda.
“O que podemos fazer, enquanto governo, é oferecer condições para identificar a doença, oferecer o tratamento adequado e tomar medidas para reduzir a proliferação do mosquito em áreas públicas. O restante é com o próprio morador”, reforça o superintendente da Região Centro-Sul da Saúde, Ronan Batista Garcia. Segundo ele, no caso da dengue (da zika e chikungunhya, também transmitidas pelo mosquito), a reação é de maior responsabilidade da população porque a maioria absoluta dos focos está dentro das casas. Ronan alerta que a instalação da tenda de hidratação a partir da próxima semana vai oferecer melhores condições de atendimento a quem estiver com sintomas da dengue, mas não vai resolver o problema na origem, onde e quando acontece a picada do mosquito.
“O governo está fazendo a sua parte, mas dependemos do retorno da população. Não adianta recolhermos o lixo e o entulho todos os dias e o morador continuar despejando novamente nos locais e em horários inadequados, passar o carro do fumacê se os focos continuarem dentro de casa. Felizmente, temos sentido essa conscientização por parte dos moradores do Guará, mas não ainda na forma e na quantidade necessárias para vencermos essa guerra”, completa o administrador regional Artur Nogueira.

As armadilhas permitem a contagem dos ovos do mosquito e se naquele local há focos do mosquito transmissor

Ação conjunta
O Governo do Distrito Federal montou uma verdadeira ação de guerra contra o mosquito depois que a incidência tomou quantidades preocupantes. No Guará, a força-tarefa começou a atuar em janeiro e envolve os órgãos setoriais da Vigilância Sanitária, das forças de segurança pública (Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros), da Secretaria de Educação, do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Cada órgão está atuando com sua expertise e no auxílio às unidades de saúde no combate ao mosquito transmissor e no atendimento aos infectados.
A Administração Regional, o SLU e a Novacap atuam no recolhimento de lixo e entulho e na autuação a quem insiste em contrariar as recomendações de manter os espaços públicos e privados limpos e sem focos de mosquito. Os órgãos de segurança dão o apoio aos agentes de saúde nas visitas domiciliares, enquanto a Regional de Ensino promove campanhas de conscientização com os alunos. E assim por diante.

O fumacê é apenas um paliativo e mata somente os mosquitos que estiverem voando ou onde o inseticida chegar.

Dificuldades enfrentadas pela força-tarefa
Herica Marques afirma que a maior dificuldade encontrada pelos técnicos é no acesso aos terrenos vazios e cercados, imóveis fechados e até pela resistência de moradores em permitir a vistoria em suas casas. Segundo ela, a maioria dos moradores insiste no “fumacê”, acreditando que o inseticida é a única solução para evitar a proliferação do mosquito e da dengue. “Temos procurado explicar que não se combate a dengue com veneno, mas com prevenção. Os mosquitos que não forem mortos pelo fumacê vão continuar botando seus ovos. Além disso, o veneno acaba matando também as abelhas, que são muito importantes para o meio ambiente”.

Estrutura de combate
Além do fumacê, o Núcleo da Vigilância Ambiental do Guará conta com 14 agentes somente para vistoriar a cidade e mais sete para a região atendida pelo núcleo, incluindo a Estrutural e o SIA, e cada um vistoria em média 20 ambientes (casas ou comércios) por dia. Herica Marques conta que a maior quantidade de pedidos de providências é pelo carro do fumacê, aquele que borrifa inseticida no ar. “O fumacê só mata o mosquito que está voando e não combate a larva, que pode ficar mais um ano incubada e eclodir quando surge o ambiente propício. O que resolve é evitar o ambiente para o mosquito botar os ovos e eles se manterem por tanto tempo”. Ela explica que não adianta o carro do fumacê passar na rua e o morador deixar as janelas de sua casa fechada, “porque, neste caso, o inseticida não entra e o mosquito continua protegido”.
Para a chefe do núcleo da Vigilância Ambiental do Guará grande parte desses focos está em reservatórios de água das chuvas, uma prática cada vez mais incentivada mas praticada sem os cuidados necessários para evitar a ação do mosquito transmissor. “Recomenda-se lavar o recipiente dessa água com frequência e não deixar a mesma água acumulada por muito tempo, mesmo que esse recipiente esteja tampado. Qualquer fresta é suficiente para o mosquito entrar”, adverte.

Enfim, chegou a tenda da dengue