Quem ouve e vê a engenheira ambiental Dahiana Oliveira Ribeiro Rodrigues, a Dai, 40 anos, falar sobre a natureza, não imagina que isso não passe apenas de uma paixão pelo assunto, como muitos tem, e o quanto ela é engajada na causa para tentar melhorar o meio ambiente. E isso fica claro na dedicação que ela tem pela Horta Comunitária do Guará, que ajudou a resgatar e a transformar na mais organizada e produtiva do Distrito Federal.
Mas essa relação direta com a natureza, especialmente com os vegetais, que ela transformou numa profissão, aconteceu meio por acaso. Na verdade, o sonho profissional de Dai Ribeiro era a Oceanografia, o que demandava deixar a família e estudar em outra região onde era oferecido o curso superior da profissão que buscava. Até que um dia ela viu uma reportagem em que um diretor da empresa Votorantim oferecia uma vaga para engenheiro ambiental para trabalhar na Fercal, nas proximidades de Sobradinho, uma das filiais no país. “Nessa reportagem, ele contava das dificuldades de se encontrar profissionais dessa área e aconselhava os jovens que tivessem essa vocação a fazerem o curso porque a demanda era grande. Foi a senha que eu precisava”, conta.
Depois de concluir o curso e trabalhar em outros locais, por ironia do destino ela veio a ocupar essa mesma vaga de Engenheiro Ambiental na Votorantim do DF, onde ficou por oito anos e ter trabalhado pela empresa em Niquelândia (GO) e São Paulo.
O que deixar de legado?
“Mas, quando veio a maternidade (ela tem um filho de sete anos) comecei a questionar que legado eu deixaria para a sociedade e para a melhoria da qualidade de vida depois de me aposentar na empresa e fazendo a mesma coisa”, conta Dai. Até que uma tia a convidou para oferecer oficinais sobre natureza para crianças no período das férias. Ela topou e juntas começaram as atividades com as crianças numa área ao lado do condomínio Guará Park, onde mora. Mas o início do projeto, em 2017, coincidiu com a crise hídrica no Distrito Federal, que fez a Caesb fechar todos os pontos públicos de fornecimento de água.
“Fomos então procurar o administrador regional da época, André Brandão, para buscar um outro local, quando ele nos ofereceu a oportunidade de reativar a horta comunitária, que estava abandonada na QE 38. Formamos um grupo de interessados e refizemos toda a horta. Tivemos que começar do zero, porque só existia mato no terreno. Hoje, temos a mais produtiva e organizada horta comunitária do Distrito Federal”, garante. O projeto já atraiu mais de 200 voluntários, que plantam e produzem cerca de 30 a 40 certas de hortaliças por quinzena, distribuídas entre os participantes e parte doada a movimentos comunitários e de assistência social.
“Todos os participantes são voluntários e aqui doa-se o que pode – pode ser mão de obra, conhecimento, recurso financeiro ou alguma coisa que a horta precise”, explica. Ela também foi a mentora do Instituto Arapoti, o braço jurídico e social da Horta Comunitária e por onde é possível receber recursos públicos ou particulares para o projeto.
Pratica o que prega
Mas a relação de Dai Ribeiro com a natureza não se resume à Horta Comunitária. “Minha sintonia com a natureza é permanente. Sou terra. Na minha casa tenho quatro pés de Ipê, capto água da chuva, reuso água da máquina de lavar roupa e tenho ecofossa. Tudo o que falo e prego, eu pratico. Sou totalmente conectada com a defesa do meio ambiente”, garante.
Preocupada com a defesa da sustentabilidade, ela conta que uma pesquisa do Ibope concluiu que 88% dos brasileiros estão preocupados com a situação do meio ambiente e 66% pouco ou quase nada sabem sobre a coleta seletiva de lixo. “Ou seja, a maioria está preocupada com o meio ambiente mas não sabe como conectar-se com a natureza para melhorá-lo. Por isso, me sinto como uma ponte nessa jornada”, afirma a engenheira ambiental.