O período crítico da dengue no Distrito Federal geralmente começa após o dia 20 de janeiro, quando as chuvas são mais intensas e quando os ovos depositados do mosquito transmissor começam a eclodir com mais intensidade, mas este ano começou um mês antes, na segunda quinzena de dezembro de 2023, de acordo com a Vigilância Ambiental. Essa antecipação provocou o aumento dos casos comprovados de dengue no Guará e em todo o DF, em alguns casos em níveis até 300% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. E o pior: a maior parte dos casos se refere ao Tipo 2, com efeitos mais doloridos e mais preocupantes.
De acordo com o último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde, foram notificados 52.864 caos suspeitos de dengue em 2023, dos quais 860 somente na Região do Guará, o dobro do verificado em 2022.
O aumento acima da média acendeu o sinal de alerta das autoridades sanitárias, que pedem mais atenção dos moradores para medidas que evitem a proliferação do mosquito transmissor. Nos grupos sociais da cidade aumentam os relatos de casos de dengue no Guará, inclusive de famílias inteiras, e pedidos de providências ao governo. Mas, de acordo com a chefe substituto do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, José Aparecido Miranda Oliveira, a maior responsabilidade pelo aumento da incidência é dos próprios moradores, que tem facilitado a proliferação do mosquito transmissor Aedes aegypti em ambientes caseiros. “Estamos fazendo a nossa parte, que é vistoriar as áreas com maior quantidade de focos, instruir o morador, mas não adianta somente o governo fazer a sua parte. Essa é uma luta de mão dupla”, alerta. Ele garante que não faltam equipamento e nem técnicos para combater a doença no Guará, “mas, nenhuma estrutura, por maior e melhor que seja, vai funcionar sem a conscientização dos moradores”.
Fumacê não resolve sozinho
O núcleo da Vigilância Ambiental do Guará conta com 15 agentes somente para vistoriar a cidade e mais sete para a região atendida pelo núcleo, incluindo a Estrutural e o SIA, e cada um vistoria em média 20 ambientes (casas ou comércios) por dia. Aparecido conta que a maior quantidade de pedidos de providências é pelo carro do fumacê, aquele que borrifa inseticida no ar. “O fumacê só mata o mosquito que está voando e não combate a larva, que pode ficar mais um ano incubada e eclodir quando surge o ambiente propício. O que resolve é evitar o ambiente para o mosquito botar os ovos e eles se manterem por tanto tempo”. Ele explica que não adianta o carro do fumacê passar na rua e o morador deixar as janelas de sua casa fechada, “porque, neste caso, o inseticida não entra e o mosquito continua protegido”.
Para o chefe substituto do núcleo da Vigilância Ambiental do Guará grande parte desses focos está em reservatórios de água das chuvas, uma prática cada vez mais incentivada mas praticada sem os cuidados necessários para evitar a ação do mosquito transmissor. “Recomenda-se lavar o recipiente dessa água com frequência e não deixar a mesma água acumulada por muito tempo, mesmo que esse recipiente esteja tampado. Qualquer fresta é suficiente para o mosquito entrar”, adverte. Outro foco importante, segundo ele, são as caixas d`água mal tampadas ou com furos, as calhas irregulares, tambores, latas, vasos de plantas, terrenos abandonados e lixo acumulado em áreas públicas por muito tempo.
Aparecido garante que a maior incidência de focos do mosquito transmissor está dentro das residências, porque, segundo ele, as áreas públicas da cidade estão sob controle. “As águas das chuvas que caem nas áreas públicas acabam escoando sem dar tempo do mosquito transmissor botar seus ovos”. Ele recomenda aos moradores dedicarem pelo menos um dia da semana para revisar a situação de suas casas após as chuvas. “São cuidados simples, como trocar água do canil e dos viveiros, revisar calhas, poças no quintal… Se cada um fizer isso, iremos reduzir drasticamente os casos de dengue”, garante Aparecido, que aponta as QEs 13, 20, 26 e 46 do Guará II e a QI 5 do Guará I como os principais focos da dengue na cidade.
Tecnologias conseguem reduzir a dengue no DF
Fumacê e armadilhas são algumas das técnicas utilizadas pela Vigilância Ambiental
Além do trabalho intersetorial entre diversos órgãos do Governo do Distrito Federal, as tecnologias utilizadas pela Vigilância Ambiental conseguem reduzir os casos prováveis de dengue, mesmo com o aumento da incidência nessa época do ano.
As armadilhas que capturam os ovos do mosquito e o UBV pesado, mais conhecido como o fumacê, somados à atuação dos agentes da Vigilância, Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Corpo de Bombeiros, administrações regionais e Novacap, conseguem evitar o aumento da proliferação do mosquito transmissor.
A chamada “ovitrampa” é um local onde o mosquito Aedes aegypti deposita os ovos, que, em seguida, são contados e descartados pelos agentes. Segundo o diretor da Vigilância Ambiental em Saúde, Jadir Costa, essa estratégia tem dois objetivos importantes no combate à dengue. Armadilhas de ovitrampa permitem a contagem de ovos do mosquito, o que é útil para a adoção de estratégias de combate à doença
“Por meio dessa armadilha, a gente consegue cessar o desenvolvimento desses ovos e permite que nossos agentes façam a contagem para chegar à conclusão se aquela região está com alta incidência do mosquito ou não. Isso serve para que a gente atue com mais eficiência nos locais que exigem uma atenção maior”, explica.
Mais tecnologias
Outras tecnologias que estão sendo implantadas ou na fase de estudo para serem implementadas no DF, como outras alternativas eficientes no combate ao mosquito Aedes aegypti, são as estações inseminadoras e o novo modelo de pulverização de larvicida natural.
“Nas estações inseminadoras, o próprio inseto será utilizado como dispersor do produto químico. E a nova tecnologia de pulverização de larvicida natural, cujo alcance é bem maior que o fumacê tradicional, é para atuar diretamente no estágio primário do inseto. Por enquanto, estamos nas fases de testes deste larvicida. Já fizemos quatro aplicações e agora estamos compilando os dados para validar a eficácia”, detalha o diretor da Vigilância Ambiental.