Depois de perder um filho com 23 anos de forma traumática e dolorosa em 2009, um irmão e a mãe em 2010 e o companheiro para a Covid-19, Maria do Socorro Ferreira da Silva, moradora da QI 11, resolveu buscar atividades que lhe dessem força para enfrentar a saudade e a lacuna deixada pelos parentes queridos. Escolheu, por acaso, o fisiculturismo, onde conseguiu, segundo ela, reencontrar e restabelecer suas forças e a vontade de continuar vivendo.
Ao levar o fisiculturismo a sério, inclusive como competidora, Socorrinha, como é conhecida, aos 66 anos mudou também os hábitos alimentares e de vida. Além de treinar diariamente no Centro de Treinamento André Torres, na QE 19, faz dieta e cuida do sono. Isso tudo nas horas vagas do trabalho – ela é chefe Ouvidoria-Geral da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), onde desempenha um papel crucial de levar a voz do cidadão para dentro da empresa, garantindo que as demandas, elogios, reclamações e sugestões das pessoas sejam ouvidas e atendidas de maneira eficiente.
Como competidora, Socorrinha já conquistou oito troféus em campeonatos locais nas categorias Biquíni e Women’s Physique. Além disso, chegou ao quinto lugar no Campeonato Brasileiro. Ela se prepara mais uma vez para o Brasiliense e para o Brasileirão, em Belém (PA), respectivamente em junho e julho.
Apesar das demandas de sua intensa rotina de trabalho e treinamento, Maria do Socorro acorda cedo e mantém uma disciplina admirável. “Para conciliar a minha rotina de treinos e o trabalho, eu tenho que manter uma disciplina rigorosa, me dedico aos treinos por 45 minutos diários por toda a semana. A pergunta que sempre ouço com relação a isso é ‘como você consegue?’, e a resposta que costumo dar é: ‘não perco tempo pensando se conseguiria fazer, apenas vou lá e faço’”.
Combate ao preconceito
Sua presença no mundo do fisiculturismo não apenas inspira, mas desafia as noções convencionais de idade e gênero. “Nós, mulheres, sempre sofremos preconceitos por participar de esportes considerados ‘para homens’. Já fui questionada várias vezes sobre possuir ‘braços fortes’. Ouço falas constantes, como ‘não namoraria uma mulher com o braço maior que o meu’ e até julgamento de outras mulheres”, reforçou a atleta. “Além do que, hoje, tendo a idade de 66 anos, ainda sofro etarismo. Algumas pessoas entendem que uma mulher na minha idade não apresenta condições de participar ativamente desse esporte e de muitas outras atividades na vida”.