Copa não entusiasma guaraense

Poucas ruas foram enfeitadas, bem menos que nas copas anteriores. Crise política e econômica são as causas do desestímulo

O momento político e econômico que o país atravessa e ainda o inesquecível 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014 esfriou os ânimos do brasileiro em relação à Copa do Mundo, mesmo com o bom futebol que a seleção brasileira vem jogando. Definitivamente, o patriotismo de outras épocas não existe mais. No Guará, pouquíssimas ruas foram enfeitadas, se comparadas às copas anteriores. Mesmo assim, as ruas enfeitadas foram iniciativas de poucas pessoas, sem a histórica mobilização de vizinhos.
No Guará I, por exemplo, apenas a praça das QIs 16/20 e o conjunto E da QI 14 foram enfeitadas. No Guará II, uma rua na QE 28, outra na QE 34 e mais uma na QE 44 mostram certo entusiasmo pela participação da seleção brasileira. Só. Para o morador da QI 7, Alexander Gonçalves, 28 anos, o brasileiro está mais preocupado com seus problemas pessoais, que foram agravados com as crises econômica/política. “Até a greve dos caminhoneiros atrapalhou. Está difícil ter vontade de comemorar alguma coisa no Brasil”, afirma. Mariane Belchior, 34 anos, moradora da QI 4, diz que a goleada de 7 a 1 na Copa de 2014 foi a maior responsável pelo descrédito do brasileiro com a seleção e a Copa. “De lá pra cá, aconteceu uma conjunção de decepções em todas as áreas, que nos fizeram perder parte do patriotismo. Eu, por exemplo, que assisto jogos da seleção desde criança, este ano ainda não entrei no clima”.
Até os bares, que costumeiramente investem em programações especiais durante a Copa, este ano preferiram não arriscar, como é o caso do mais movimentado deles no Guará, o Traíra sem Espinha, na QE 42. “Investimos muito em 2014, mas a eliminação do Brasil nos deu muito prejuízo. Este ano, preferimos não arriscar. Não fizemos nada diferente”, explica o gerente da casa, Rogério Monteiro.
O desânimo pela Copa e pela seleção brasileira não é somente aqui. Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de junho, a apenas dois dias do jogo de estreia, indica que 53% da população demonstra desinteresse na Copa, nível recorde desde 1994. No fim de janeiro, o índice era de 42%.

Desde a Copa de 82 o músico Kayo Jonh mantém a tradição de pintar o conjunto I da QE 28

Causas do desânimo
Para o diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCop) Alexandre Bandeira, vários fatores contribuíram para esse desânimo do brasileiro. “Desde 2014, o país passou por muitos problemas, como o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Já em 2017, o desemprego atingiu nível recorde (12,7%) desde 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Muitas pessoas não têm dinheiro, emprego e perspectiva de crescimento. Estão preocupadas. Não há um clima, no sentido social, de tanto engajamento. Acredito que, com o andamento da Copa, as pessoas se motivem. Mas este deve ser um dos Mundiais menos animados dos últimos tempos”, analisa.
A greve dos caminhoneiros também contribuiu para o arrefecimento da empolgação da torcida brasileira, de acordo com Alexandre Bandeira. “A paralisação sem precedentes no país durou 11 dias, bloqueou rodovias e afetou serviços dependentes do transporte por esse meio. Desabasteceu mercados, hospitais e postos de combustível, e provocou indignação na população”, completa.
A greve dos caminhoneiros teve outra consequência em relação à Copa: o varejo deixou de vender cerca de R$ 245 milhões em televisores, queda de 24% em relação a abril. A expectativa dos varejistas é que a retomada aconteça com as vitórias do Brasil na primeira fase do Mundial.
Mas, outra crise minou a empolgação do torcedor. A prisão do ex-presidente da CBF, José Maria Marim, nos Estados Unidos, o banimento pela Fifa do também ex-presidente Marco Polo de Nero e as denúncias contra Ricardo Teixeira, todos por corrupção, deixaram a percepção no brasileiro de que o futebol se transformou num grande negócio escuso, em vez da velha paixão esportiva.
Segundo a Nike, fornecedora de material esportivo da seleção brasileira, as vendas da camisa canarinho deste ano chegaram apenas à metade de 2014.