Há exatamente um ano, quando contou sua história na reportagem especial do Outubro Rosa para o Jornal do Guará, Elza Muzi tinha acabado de ser diagnosticada com câncer de mama. Antes do diagnóstico, ela mantinha os exames em dia, hábitos alimentares saudáveis, praticava exercício físico e não havia casos de familiares próximos com a doença, ou seja, não se enquadrava no grupo onde é mais comum se manifestar a doença. Contudo, através do autoexame, Elza sentiu um caroço na mama direita.
Na época em que deu a entrevista, ela tinha acabado de começar a fazer as sessões de quimioterapia, que duraram de agosto de 2017 a janeiro de 2018, no total de 16 sessões. Em fevereiro, Elza foi submetida à mastectomia (cirurgia para remoção da mama). Ela estava se preparando para a retirada das duas mamas, mas através de exames de mapeamento genético, foi possível constatar que ela não tem nenhum gene cancerígeno, e como não se enquadra em nenhum fator de risco, não foi necessário retirar a mama esquerda, apenas parte da mama direita, onde estava o nódulo.
Tratamento
“Ficar careca não me incomodou. Ninguém acredita quando digo que não tive nenhuma reação às sessões da quimio, não tive nada, nem náuseas! Eu já chegava otimista para a sessão, conversava com as gotinhas da medicação, brincava. Ao longo do tratamento, minha imunidade subiu ao invés de cair, nem gripe eu peguei, foi algo inexplicável. O único efeito negativo foram os 18 quilos que engordei por conta do tratamento, porém, terei muito tempo para eliminar. Não tenho pressa. Acredito que grande parte desse resultado positivo tenha sido graças à minha decisão em não me entregar ao abatimento. Eu saía da quimio, passava em casa me arrumava e ia pro cinema, ou fazer algum passeio. Sempre buscava motivos para ser grata”, revela Elza.
Vencidas as etapas de quimioterapia e mastectomia, o tratamento ainda não tinha terminado. Faltavam as sessões de radioterapia. Elza passou por mais essa etapa com sucesso e apesar de continuar sendo uma paciente oncológica, ela está sem sinais da doença, ou, como dizem na Medicina, “paciente em remissão”. Precisa apenas continuar o tratamento com bloqueadores hormonais (hormonioterapia) para inibir a atividade dos hormônios que tem influência sobre o crescimento de algum tumor. Passados cinco anos de hormonioterapia sem intercorrências, Elza estará curada. Até o final deste ano ela poderá colocar a prótese na mama direita e fazer a simetrização.
“Eu era uma pessoa extremamente ansiosa, também tive dois quadros de depressão antes do câncer, vivi um relacionamento turbulento e tóxico, acredito que foram esses fatores que favoreceram a minha doença, não tem outra explicação, mas não vejo e nunca vi o câncer como um castigo. Tentei entender e tirar o máximo de positivo disso. Hoje, sou outra pessoa, foi como se tivessem tirado a minha ansiedade com a mão, aprendi a lidar com minhas emoções. Tive que aprender a conviver com as incertezas da doença, porque no fim das contas a gente não tem controle de nada na vida. É um paradoxo, mas posso afirmar que o câncer foi um presente em minha vida”, garante.
Objetivos
Muitas vezes as pessoas são questionadas sobre o que elas querem da vida. Elza ressalta que a pergunta deve ser inversa para “o que a vida quer de mim?”. E foi esse questionamento que despertou sua determinação, porque ela entendeu que a vida queria que naquele momento ela fosse forte, desacelerasse, olhasse para si e se cuidasse e que através desse contratempo poderia ser exemplo para outras pessoas. Muitas mulheres com câncer se aproximaram de Elza – ela foi convidada para palestrar em muitos eventos, e em janeiro deste ano, ela, marido Israel Augusto e mais três amigas decidiram abrir um instituto de psicologia positiva, o Instituto Florescer.
O primeiro projeto desenvolvido pelo Instituto Florescer foi oferecido gratuitamente para o grupo de apoio às mulheres com câncer, o Vencedoras Unidas. O projeto foi batizado de Eu Maior, e traz essa mensagem que Elza compreendeu no ápice da doença, que o tratamento oncológico é só uma parte da cura, o paciente precisa se dedicar à cura integral e isso envolve lidar com seu emocional. Além das emoções, o Eu Maior trata de outros assuntos, como engajamento, sentido e propósito, relacionamentos e realizações. O projeto aconteceu na forma de encontros quinzenais. Em cada encontro era passado um pouco de conteúdo teórico, exemplos práticos e uma tarefa para casa.
Ao final do curso foi aplicada uma pesquisa de satisfação com a vida para as participantes. “Ao longo do curso já fomos observando nelas uma mudança nítida em relação a lidar com as emoções e o resultado da pesquisa foi incrível e os depoimentos emocionantes”, afirma Elza. Em junho, o instituto foi convidado a participar do III Congresso de Psicologia Positiva para apresentar o Eu Maior. A repercussão foi tão grande que o grupo Positive Meeting vai replicar o projeto em mais seis estados brasileiros agora em novembro. O projeto Eu Maior é apenas um dos projetos do Instituto Florescer, que desenvolve treinamentos em company, cursos na área de Coaching, psicologia positiva e liderança, analista comportamental, educação positiva, entre outros.
Hoje, após o reboliço em sua vida, Elza comemora seu estado de saúde estabilizado e o sucesso profissional ao lado da família e deixa um recado para quem porventura esteja passando alguma intercorrência: “olhe para a sua dor sob a perspectiva do propósito que Deus tem para sua vida.Existe algo de positivo para você aprender com isso – eu aprendi a não ser tão dependente de outras pessoas e a controlar minha ansiedade, mas cada um aprende algo diferente. Afinal, o que a vida quer de você?”