O fim do Clube de Regatas Guará

Sem disputar campeonatos há quatro anos, clube mais antigo do DF é notificado pela Federação de Futebol para justificar a ausência prolongada. Mas, dívidas de mais R$ 4 milhões inviabiliza retorno

Campeão brasiliense de 1996, quatro vezes vice-campeão entre 1990 e 1995, o mais antigo clube de futebol do Distrito Federal recebeu esta semana a pá de cal que pode significar sua morte definitiva. A Federação de Futebol do Distrito Federal notificou nesta segunda-feira, 2 de dezembro, o Clube de Regatas Guará para que justifique sua ausência nas competições locais por três anos seguidos – a última foi o Campeonato Brasiliense de Juniores em 2016. No documento, a Federação questiona o fato do clube não ter Conselho Fiscal e Diretoria eleitos. Caso não apresente as justificativas ainda em dezembro, clube poderá ser desfiliado definitivamente e ficará impedido de voltar a disputar competições oficiais.

Entretanto, o documento da Federação é apenas uma formalidade, porque o “Lobo da Colina”, como é conhecido o clube, está praticamente morte e pronto para ser enterrado. O que ainda dá sobrevida ao CR Guará são as dívidas trabalhistas, fiscais e judiciais, calculadas em cerca de R$ 4 milhões. Sem qualquer patrimônio para honrar a dívida, o clube não pode ser fechado. Sem diretoria formalmente eleita no prazo estipulado pelo Estatuto, o único responsável pelo clube e, portanto, pelo passivo, é Márcio Antonio da Silva, o Marcinho, o último presidente eleito.

Em viagem a Minas Gerais, Marcinho informa que ainda não recebeu a notificação da Federação e que ainda não sabe o que fazer.

Ao Jornal do Guará, Marcinho esclarece a real situação do CR Guará e praticamente não dá qualquer esperança do clube retornar um dia aos gramados, a não ser que apareça algum investidor disposto a pagar todas as dívidas e reerguer o Lobo da Colina.

O sr. é criticado por ter controlado o clube como se fosse uma propriedade particular sua e também pela crise do clube…

– Tenho ouvido muita bobagem por aí sobre esse assunto. Enquanto são apenas críticas, eu aceito, mas não vou permitir que atinjam a minha honra. Se isso acontecer, vou tomar as providências judiciais.

Não estou na presidência do Conselho Deliberativo do Clube de Regatas porque quero, porque se dependesse somente da minha vontade eu já teria entregado tudo a quem quisesse. Acontece que a situação jurídica do clube é muito complicada e sou eu que respondo por ela desde que assumi o Conselho em 1998. Não posso entregar o clube na situação em que ele está sem que tudo esteja resolvido, porque vai sobrar pra mim, como, aliás, já está sobrando. Existem várias execuções judiciais que repondo por elas  e outros não vão ter  o mesmo empenho em me defender. Só por isso.

 Quais são essas ações?

– A principal delas é do IPTU do terreno da Colina. O GDF está cobrando mais de R$ 4 milhões de impostos atrasados. Existe uma outra do Sesc, por conta da cessão da área onde está hoje o Clube do Comerciário, no Guará I, no valor de quase R$ 1 milhão. E outras menores ações trabalhistas. A outra ação é de peculato contra a minha pessoa (que na época, entre 1998 e 2000, eu era o 2º vice-presidente) relativo ao dinheiro repassado da Secretaria de Esportes para a Federação Brasiliense de Futebol e depois para os clubes.

 Por que o GDF continua cobrando o IPTU se o terreno foi vendido pelo Guará em 1995?

– A venda não chegou a ser concretizada. Foi feita uma promessa de compra e venda com o empresário e ex-deputado Sérgio Naya (morto em 2009), que não chegou a ser concluída, porque na escritura do terreno não é permitida a venda.

Foi ele então que desistiu do negócio?

– Sim. Depois que percebeu que seria mais difícil do que pensava por conta da escritura que não poderia ser lavrada por causa da proibição da venda, da época da doação do terreno pelo GDF.

Em que o estágio está a ação do GDF do IPTU?

-Estamos recorrendo e mostrando ao governo de que os verdadeiros devedores são os ocupantes da Vila Cauhy, que invadiram o terreno e usufruem dele.  E o próprio governo já conseguiu a reintegração de posse. Portanto, não é justo que o Guará que seja o devedor. O processo está andando, mas ainda a passos lentos.

 

 “Sobrou só pra mim”

 

Então, não há chances do clube recuperar o terreno?

– Nenhuma. O governo já garantiu a reintegração de posse.

O que é essa dívida do Sesc?

– O Guará era concessionário do antigo Clube de Vizinhança do Guará I e depois repassou esse direito à Federação do Comércio em 1996 para dar lugar ao Clube do Comerciário. Então, o SESC entrou na justiça para reaver o valor pago ao CR Guará,  R$ 240 mil, pedindo penhora de todos os repasses efetuados pela Federação, órgãos públicos, saldos em conta corrente e direitos federativos. Hoje, a dívida corrigida ultrapassa R$ 1 milhão.

 O clube ainda tem algum patrimônio, como a sala comercial no Guará II, recebida no negócio do Pelezão  com a Paulo Otávio?

– A sala estava em nome da Federação Brasiliense de Futebol com direitos para o Guará, e foi penhorada pela Justiça para pagar dívidas trabalhistas.

O CR Guará chegou a ser  arrendado a quatro grupos diferentes. Por que não continuaram?

– Porque queriam o clube, mas não responsabilizariam pelas dívidas, pelo ônus. Eles só queriam a parte boa, tocar o futebol, mas sem assumir a situação do clube, que continuaria comigo. O outro grupo queria continuar, mas apenas com a parte boa. Assim, não dá.

Mas o ex-presidente da Federação Brasiliense de Futebol e do próprio Guará, Fábio Simão, chegou a se comprometer a pagar as dívidas e reerguer o clube. Por que não deu certo com ele?

– Fábio Simão foi o único que se comprometeu, por escrito, a se responsabilizar por qualquer compromisso financeiro que viesse a fazer sem deixar dívidas para clube e ainda me ajudar a resolver as pendências existentes. Mas ele não conseguiu os apoios que pretendia e o contrato venceu sem que o compromisso fosse cumprido.

Na Federação consta que a gestão do Conselho venceu em 31 de dezembro de 2015. Não deveria ter sido convocada uma nova eleição?

– O Estatuto diz que a gestão pode ser prorrogada por tempo indeterminado até a convocação de novas eleições.

Por que o sr. não convoca novas eleições?

– Quem vai querer participar da diretoria de um clube com um buraco desse tamanho? Se aparecer quem queira, providencio a eleição imediatamente e entrego o clube.

Se aparecer interessados, o sr. gostaria de continuar na diretoria, no Conselho e tendo influência no clube?

– De forma alguma!  Não quero mais participar de gestão nenhuma. Só eu que estou pagando o pato e ainda fico recebendo críticas de quem não aparece para ajudar.