GUARÁ NUNCA ESTEVE TÃO SUJO e a culpa é dos moradores

As fotos que ilustram esta reportagem foram tiradas esta semana, às 12h de dia de coleta de lixo. Por todo canto, calçadas, canteiros e áreas verdes há sacos de lixo jogados, obviamente, pelos moradores e empresários. Por que vivemos em uma cidade tão suja?

Há lixo em todos os cantos do Guará. O problema é maior nos arredores da cidade, ou seus limites com outras regiões, e nas áreas que se tornaram residenciais contrariando o projeto urbanístico da cidade, como Polo de Moda, QE 40 e Setor de Oficinas. Uma das causas para o acúmulo de lixo poderia ser a coleta em dias alternados, implantada desde o ano passado. Porém, justamente nestas áreas, a coleta foi mantida diariamente. “Mesmo assim, o problema de lixo nas ruas se agrava se não houver a colaboração do cidadão, que precisa dispor seu resíduo no horário certo da coleta. Se os sacos forem colocados nas ruas em discordância com o horário da passagem do caminhão, aqueles resíduos ficarão expostos até o seu recolhimento no dia seguinte”, explica Bruno Marques, ouvidor do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). É de responsabilidade do governo recolher o lixo, obrigação custeada com imposto próprio, chamado Taxa de Limpeza Pública. Porém, como fica quando o cidadão coloca o lixo na rua fora do horário ou dia de coleta?
Quem vive nos pequenos apartamentos do Polo de Moda assiste todo as manhãs centenas de pessoas saírem de casa e colocar o lixo doméstico na rua. O problema é que ali o caminhão de coleta passa apenas à noite, ficando os despejos sob sol, chuva, a mercê de animais e veículos.
A cidade passa o dia inteiro com o lixo na porta dos prédios e comércios. “Passo o dia em casa, não posso sair por problema de saúde, e o dia inteiro o lixo fica jogado na rua. Aqui no meu prédio mesmo, os moradores saem cedo e jogam ali no canto. O caminhão só passa de noite pra recolher, aí o lixo já está todo espalhado e fedendo”, conta Rita de Cássia, moradora de um prédio de pequenos apartamentos no Polo de Moda. Diferente dos prédios residenciais do Guará I, II e Lúcio Costa, que tem lixeira em local apropriado e síndicos, essas novas áreas sofrem as consequências do adensamento demográfico irresponsável. As ruas estreitas e cheias de carros estacionados impedem a passagem dos caminhões de coleta. A instalação de contêineres e lixeiras, não prevista no planejamento original, é um impasse entre os proprietários dos prédios e o poder público.
Uma atitude que poderia amenizar o problema é a instalação de lixeiras semienterradas, ou contêineres semienterrados. Esses equipamentos comportam uma grande quantidade de lixo, e não ficam expostos, evitando que o lixo seja revirado. Existe uma licitação em curso no SLU para a compra e instalação desses equipamentos, mas não há previsão de quantos ou quando serão colocados no Guará. “Ainda não há uma data, mas foi instituído um grupo de trabalho com a participação das administrações regionais para definição dos locais de instalação das lixeiras. Ao todo, o DF receberá 21 mil novas lixeiras, previstas nos novos contratos”, esclarece nota SLU ao Jornal do Guará.

Segundo a Administração Regional, em janeiro e fevereiro deste ano foram recolhidas mais de 50 toneladas de entulho pelos órgãos, sem contar as operações do DF Presente e a ação do próprio SLU

Administração do Guará
A administradora regional do Guará Luciane Quintana não tem mais detalhes sobre a instalação de lixeiras, mas diz que o órgão está empenhado na árdua missão de limpar a cidade. “Temos o programa Guará Sem Lixo, que desde o ano passado tem realizado forças-tarefas nas quadras para a limpeza. São dois dias em cada local, com caminhão, trator e funcionários fazendo a limpeza. O problema é que a demanda é muito grande”, explica. “Essas operações tentam diminuir ou até mesmo eliminar os casos de descarte incorreto que registramos todos os dias. Além de poluir visualmente a nossa cidade, oferece riscos à saúde pública como a proliferação de animais peçonhentos e criadouro do Aedes Aegypt”, completa a administradora regional.

Conscientização
“O Guará não é diferente de outras cidades do país. Temos pessoas que são totalmente descuidadas e no dia a dia estão contribuindo para a sujeira. Esses descuidados, ao sair para trabalhar deixam o lixo no meio da rua, onde animais, cavalos e aves podem rasgar os recipientes. O lixo exposto vira um local de proliferação de vetores de doenças, como ratos, mosquitos e baratas. Os descuidados devem ter mais atenção, pois é ele e sua família vai estar exposto a estes problemas. É o mosquito o que pousa no lixo e depois na cabeça de uma criança, ela coça e pega berne. Mas, há também os mal-educados, para quem é preciso campanhas permanente de conscientização. É necessário fazer uma campanha extensa nas escolas. As crianças são os maiores educadores, educam os adultos e os jovens. Tanto o mal-educado quanto o descuidado vão sofrer as consequências do acúmulo de lixo nas ruas. Não é à toa que Guará sempre é recordista em número de casos de dengue, de picadas de escorpião e outros”, indigna-se o ambientalista e professor Adolpho Fuíca.
Apesar do problema aparente, o SLU registrou menos reclamações sobre o lixo do Guará em sua ouvidoria em fevereiro, caindo de 52 em dezembro, 32 em janeiro e 26 em fevereiro.

Fiscalização
A fiscalização é de responsabilidade do DF Legal, tanto do lixo doméstico quanto do de grandes geradores. “Nos estabelecimentos considerados grandes geradores, o DF Legal vistoria diversas situações e fases, como Plano de Gerenciamento, segregação, armazenamento e disponibilização para a coleta, cadastro no SLU, controle de transporte de resíduos, eventos e transportadores e o descarte irregular de resíduos em área pública”, explica Divina Cunha, subsecretária de Fiscalização de Resíduos do DF Legal. Segundo o órgão, as multas variam de R$ 585 a R$ 23 mil. Não só os grandes geradores podem ser multados, mas também quem coloca lixo em local e horários errados pode ser notificado e, em caso de reincidência, multado entre R$ 87,15 e R$ 2.179,44. Mas, se o lixo for em grande quantidade e jogado em área pública, a multa para o responsável pode chegar a R$ 21 mil.