GOLPES AUMENTAM NA PANDEMIA

O isolamento social durante a pandemia tem aumentado a presença de mais pessoas nos meios digitais e com ela circulado uma maior quantidade de informações bancárias, números de telefones, de CPFs, prato cheio para os estelionatários. E, pela falta de experiência e informação sobre como se comportar na internet, os idosos se tornam vítimas mais fáceis. A 4ª Delegacia de Polícia do Guará tem registrado em média pelo menos um golpe contra moradores da cidade por dia, o que representa o dobro da média do ano passado. As maiores vítimas são os idosos, que tem menos familiaridade com a Internet e tendem a acreditar mais nas informações que recebem.
De acordo com levantamento da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), entre março e setembro deste ano, os crimes de estelionatos praticados pela internet aumentaram 198,95%. Já os de furto mediante fraude subiram 310,97% em relação ao mesmo período do ano passado.
A cada dia surgem novos golpes, mas alguns continuam sendo repetidos porque continuam rendendo bons resultados aos estelionatários. No Guará, de acordo com registros da 4ª DP, o mais comum é do cartão de crédito clonado, em que uma suposta central de banco liga para o morador perguntando se ele acabou de fazer uma compra numa cidade bem longe de onde mora. E num valor alto. Assustado, o morador informa que não fez a compra e é aconselhado a cancelar o cartão imediatamente, mas para isso precisa tomar umas providências recomendadas pelo suposto banco. Uma dessas providências é receber um servidor do banco ou um emissário com uma máquina para fazer o cancelamento. Em caso de resistência da vítima em digitar a senha, é recomendado a ele inutilizar o cartão com uma tesoura e entregá-lo ao funcionário do banco que irá buscá-lo no local indicado. De posse do cartão, mesmo cortado em pedaço, as quadrilhas fazem compra no comércio ou pela Internet. De posse da senha digitada na máquina levada pelo mensageiro, retiram todo o dinheiro da conta.

Estelionatários presos
Com o nome falso de Gabriel Alencar, e com crachá do Banco do Brasil, este estelionatário é encarregado de recolher os cartões das vítimas no Guará

A 4ª DP prendeu esta semana na QE 26 o estelionatário Paulo Alexandre Amaral Raimundo, que usava um crachá do Banco do Brasil e o nome falso de Gabriel Alencar, com 16 máquinas de cartão, usados para enganar moradores do Guará. Articulado, ele contou aos investigadores que mora em São Paulo e vem a Brasília a cada 15 dias recolher cartões de clientes cooptados por quadrilhas de estelionatários. Ele tinha a ajuda do comparsa Francisco Martins dos Santos, também preso.
Outro golpe cada vez mais aplicado de acordo com o delegado titular da 4ª DP, Anderson Espíndola, é a clonagem da conta do WhatsApp para pedir dinheiro emprestado aos amigos ou parentes. Ao acessar as mensagens, os estelionatários selecionam as pessoas mais próximas das vítimas e enviam mensagens informando que teve uma dificuldade momentânea, principalmente bloqueio da senha da conta bancária, e precisa de uma determinada quantia urgente, que será devolvida assim que a conta for regularizada.
Outro golpe que aumentou é do parente pedindo dinheiro emprestado para uma emergência. O estelionatário liga para a vítima se fazendo por parente dizendo que está precisando de dinheiro. Se a vítima acreditar na história, ele diz que, devido à pandemia, não é necessário ir ao banco para realizar o depósito e que irá enviar um motorista de aplicativo com uma máquina para realizar a transferência. Os golpistas repetem a história contada para o motorista contratado. Posteriormente, o condutor repassa o dinheiro para o autor do golpe, sob promessa de receber uma comissão de R$100 a R$300. A preferência é pelo aplicativo InDriver, que disponibiliza os dados do motorista para o usuário, o que facilita uma intimidação caso o condutor desconfie do golpe.
Em julho, somente em um dia quatro pessoas procuraram a 4ª DP denunciando o mesmo golpe. Neste caso, normalmente o motorista do aplicativo não é conivente, porque não é informado do que realmente está acontecendo. As quatro vítimas que denunciaram o golpe têm entre 62 e 86 anos. Uma das histórias inventadas para conseguir o dinheiro é a de que um neto está precisando de ajuda para consertar ou comprar um carro. “Orientamos aos moradores que tenham parentes idosos que deem a eles conhecimento sobre essa nova modalidade de estelionato”, diz o delegado Anderson. “Também orientamos aos idosos e aos moradores em geral do Distrito Federal que, quando receberem telefonemas de supostos parentes solicitando auxílios financeiros de qualquer espécie, que tentem retornar a ligação para eles depois. Caso não consigam, que peçam a ajuda de algum familiar mais próximo”, reforça.

Dobraram as ocorrências

Para o delegado-chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani, o aumento da presença on-line gera oportunidade para os que enganam internautas em sites falsos ou de outras maneiras. Ele lembra que o comportamento do usuário também pode colocá-lo em risco. “Comprar em um site novo ou desconhecido é perigoso. Com os dados do cartão, número completo e vencimento, qualquer pessoa pode comprar qualquer coisa no seu nome. Outro erro frequente é repetir senhas em diversas contas. Aí, se vaza uma senha do e-mail, por exemplo, o criminoso pode acessar outros serviços”, alerta.
A Polícia Civil do DF tem atuado para coibir esses crimes e alertar a população sobre os cuidados, mas, em muitos casos, os estelionatários são de outras unidades da Federação. “Na maioria dos crimes de fraudes virtuais, os criminosos não residem no DF e a vantagem ilícita também não é creditada aqui”, afirma o delegado Wisllei Salomão. titular da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf/PCDF)

O delegado Anderson Espíndola recomenda aos parentes que orientem os parentes mais idosos para os riscos de estelionato

Como se proteger de golpes virtuais

“Os grandes problemas que a gente tem com os crimes de informática é que não tem muito o que remediar. Depois que você caiu no golpe, o que deve fazer é se prevenir para não sofrer outro golpe desse e, se sofrer, minimizar os danos”, explica o delegado Anderson Espíndola.
É preciso, portanto, procurar entender como criar hábitos seguros nas redes sociais, no armazenamento de arquivos, na instalação de softwares e na construção de senhas. Os usuários devem ter cuidados ao clicar links que venham de mensagens, e-mails ou SMS de desconhecidos. Não é seguro fornecer informações pessoais, mesmo que o remetente seja aparentemente um banco do qual a pessoa é cliente. Outro hábito indicado pelos especialistas em segurança cibernética é apagar fotos de documentos e mensagens que contenham esse tipo de mídia, criar senhas fortes que incluam números e letras, não utilizar programas pirateados e manter cópias de arquivos importantes em um lugar protegido são outras das dicas.

Dicas para se proteger de fraudes bancárias:

  • » O banco não liga nem encaminha links por SMS, WhatsApp ou e-mail pedindo atualização dos dados, sincronização de token ou desbloqueio de cartão
  • » Não clique em nenhum link. Digite, no navegador, o endereço eletrônico do banco ou da loja em que pretende realizar a transação ou compra
  • » Sempre baixar aplicativos apenas da loja oficial do sistema operacional do seu dispositivo
  • » O banco não entra em contato para pedir cadastro de favorecido, transferências, transações para testes ou estorno de valores nem desbloqueio de cartão
  • » O banco não entra em contato para dizer que sua conta será bloqueada por falta de atualização cadastral
  • » Também não envia ninguém em sua casa para retirar seu cartão, notebook, computador, tablet, celular ou o chip dele, nem para pedir atualização ou sincronismo de token
  • » Fique atento à links encurtados e desconhecidos enviados por SMS ou e-mail. Não clique nem informe seus dados
    Fonte: Febraban