O Guará perdeu na semana passada um dos seus mais importantes personagens, com o retorno do padre Aleixo Susin para sua terra natal depois de 48 anos dedicados à cidade e à paróquia São Paulo Apóstolo, na QE 7. Doente, com Alzheimer, aos 92 anos, ele foi levado para um abrigo e clínica para idosos em Caxias do Sul, onde nasceu. Somente a doença, que se pronunciou com mais força desde o ano passado, conseguiu vencer a força do pároco, que foi um dos personagens do mutirão que criou o Guará, ao participar da construção de 12 casas, inclusive com trabalho braçal.
Mas não é somente o Guará que deve parte de sua história ao padre Aleixo Susin. Ele foi o criador da Via Sacra do Morro da Capelinha, considerada a segunda maior encenação do país, quando foi pároco em Planaltina, entre 1969 e 1973.
História no Guará
A sua história no Guará começou em 1968, um ano após o início do mutirão, quando mobilizou um grupo de fiéis católicos para ajudar na construção de algumas casas nas QIs 1 e 3 do Guará I. “Trabalhei praticamente como operário no mutirão, para ajudar funcionários mais pobres da então Prefeitura de Brasília, que tinham direito ao lote mas não tinham meios para construir suas casas”, contou ele ao Jornal do Guará há dez anos.
Na época do mutirão, padre Aleixo morava num colégio dos Irmãos Lassalistas, onde é hoje a cidade de Águas Claras. Após a missa, ele trocava a batina por roupas de “peão” e rumava a pé em uma hora de caminhada para o Guará, no trajeto da EPTG. Às vezes, pegava o ônibus para chegar mais rápido ou quando batia o cansaço. “Naquele tempo, eu não tinha nada. As pessoas que trabalhavam no mutirão me davam o resto do jantar anterior, colocavam numa lata. Havia quem também não tinha nada e eu repartia com eles”, contou à reportagem.
Cumprida a missão de ajudar na construção das casas, padre Aleixo retornou à cidade depois da passagem por Planaltina, para erguer a Paróquia São Paulo em um lote na QE 7, ao lado da primeira versão da Feira do Guará, destinado pelo GDF. Lá, com a ajuda de doações e de promoção de eventos, ele conseguiu construir um galpão que durante mais de 20 anos funcionou como a igreja da paróquia, antes da construção da atual sede.
Perfil Filosofia e teologia
Nascido em Caxias do Sul (RS), em 1927, neto de imigrantes italianos, padre Aleixo entrou para o seminário com apenas 13 anos, no distrito de Fazenda Souza. Mas a vocação para ser um missionário católico começou aos cinco anos. “Minhas brincadeiras eram rezar missa e chamar amiguinhos pra ouvir o sermão. A túnica para celebrar a missa era o vestido de noiva da minha mãe, uma capa do meu pai, e o cálice da igreja era de vidro”, contou ao JG.
Depois de cursar Filosofia em São Leopoldo (RS) com padres jesuítas, padre Aleixo lecionou em colégios internos. Em 1950, foi mandado para Roma a fim de estudar Teologia, até que em 1953 foi ordenado sacerdote na Basílica São João de Latrão, na capital italiana, enquanto os estudos eram finalizados na Universidade Gregoriana de Roma. Em março de 1969, com a morte de um pároco em Planaltina-DF, teve que assumir o posto, onde ficou por cinco anos até ser transferido para o Guará.
Via Sacra de Planaltina
Enquanto esteve em Planaltina, antes de vir para o Guará, padre Aleixo sonhava em recriar a Paixão de Cristo num morro próximo, que recebeu depois o nome de Morro da Capelinha. A primeira encenação teve a participação 500 fiéis, de forma bastante improvisada e longe da grande produção que é hoje. A mobilização foi feita por três igrejas católicas da região. “Depois do terceiro ano, chamei os cursilhistas para, a partir dos Quatro Evangelhos, fazer uma reflexão e realizar a via-sacra da maneira mais direita possível”, contou ele. “Na primeira tentativa, foi tudo muito simples, mais no campo da alegoria. Aparecia Jesus subindo o calvário e seguiam-se as estações bíblicas”. Ele contava que imaginou, no que caracteriza como um “sonho de dia”, três morros unidos que se enchiam de gente.
Hoje, a Via Sacra mobiliza sete paróquias de Planaltina e reúne cerca de 130 mil pessoas durante toda a programação.