Para alguns, é um gozador nato, debochado, irônico e até desrespeitoso… Para outros, é inteligente, perspicaz e irreverente. Difícil é definir quem realmente é José Gurgel, que se confunde com o seu personagem Caixa Preta, criado por ele para mandar indiretas a políticos, autoridades e outras lideranças, e contar causos enquanto toma uma cerva gelada com amigos, incluindo o próprio Gurgel, no hipotético bar pé-sujo “Porcão”.
O certo é que é difícil levar Gurgel a sério, embora às vezes ele realmente seja, principalmente quando defende a cidade. E não tem medo de fazer questionamentos e críticas a quem quer que seja, até ao governador se preciso. Foi assim que fez amizade com o ex-vice-governador Renato Santana depois de uma pergunta “malcriada” feita por ele durante um debate sobre melhorias do Park Sul no governo Rollemberg. Em vez de se irritar com o duro questionamento de Gurgel, Renato Santana preferiu convidá-lo para visitar seu gabinete, onde o amigo do Caixa Preta passou a frequentar com regularidade.
Mesmo nas perguntas e críticas duras, as autoridades preferem levá-lo na “brincadeira”, embora saibam que nelas há verdades. Afinal, dificilmente alguém defenda mais a cidade do que Gurgel, mesmo da forma que saiba ou prefere fazer.
Entretanto, quem não o conhece mas o lê semanalmente nas páginas do Jornal do Guará pode até pensar que Gurgel é apenas um personagem. Pode até ser, se considerarmos que a vida não é para ser levada tão a sério.
Vamos tentar destrinchar aqui quem realmente é o maior amigo do Caixa Preta.
Paixão pelo Guará
Cearense de Fortaleza, José Soares Gurgel, 71 anos, veio para Brasília em 1970 para trabalhar na Colmeia, um banco de poupança e empréstimo que pertencia a Cleto Campelo Meireles. De lá foi para o Sistema Telebrás, onde se aposentou aos 53 anos.
Casado, duas filhas criadas, Gurgel começou sua história com o Guará quando conheceu Sandra, que morava na QE 13, com quem viria se casar. Há mais de 40 anos moram na QE 30, onde nasceram as duas filhas.
No movimento comunitário começou com a As-sociação de Dominó Terno de Branco, que promovia campeonatos na praça da QE 30. Além de jogar, ele editava o informativo da associação, quando recebeu o convite do editor do Jornal do Guará, Alcir de Souza, que se interessou pela verve e ironia contida nos textos dele. Além de mais de 12 anos de coluna no Jornal do Guará, Gurgel mantém o blog Caixa Preta, o Guerrilheiro do Cerrado, que já atingiu mais de 1 milhão de acessos.
Com os amigos Klécius Oliveira, Sidrônio Fonseca e Waterman Gama criou o Fórum Permanente em Defesa do Parque do Guará e é membro do Conselho de Saúde do Guará. É um apaixonado pela cidade e não perde um evento sequer que diga respeito à ela, onde for, sempre atazanando as autoridades com questionamentos diretos e sem filtro.
Passa o dia andando pela cidade a pé, fotografando tudo o que acha errado, “para ninguém me desmentir quanto denuncio e critico”, diz.
Caixa Preta e Porcão
Quando foi convidado para escrever a coluna para o Jornal do Guará, Gurgel pensou em criar um personagem para fazer críticas indiretas e divertir seus leitores com causos. A ideia do Caixa Preta, o Guerrilheiro do Cerrado, foi copiada do personagem Mosca. do humorista e colunista Zé Carlos, do Correio Braziliense.
Faltava o ambiente para o Caixa Preta. “Eu frequentava um quiosque na praça da QE 30, onde tomava cerveja com os amigos, quando um dia vi a dona do bar coçar a perna com a mesma faca que cortava carne para o tira-gosto que iria nos servir. Da porcaria, surgiu o Porcão. Mas a dona nunca soube que era o quiosque dela”, conta, rindo, um dos mais conhecidos personagens do Guará.