O nome “GG” pode parecer indiferente para quem participa da vida do Guará de 20 anos para cá, mas provoca um sentimento de adoração e saudosismo a quem estudou em escola pública e fez o antigo Segundo Grau na cidade nas décadas de 70 e 80. Ter estudado no antigo Ginásio do Guará, renomeado como Centro de Ensino Médio (MEN) 01 na reforma da Educação, é motivo de orgulho para muitos que hoje estão bem sucedidos na vida pública, como o senador Izalci Lucas, o ex-administrador regional do Guará e ex-deputado distrital Alírio Neto, juízes, advogados, empresários, enfim, uma lista enorme de quem deve boa parte de sua formação vitoriosa à mais antiga e tradicional escola pública da cidade.
Mas nem todos se lembram do GG como exemplo de sua formação pedagógica e cultural, mas pelo que a escola representou no seu ciclo de amizades e até nas relações amorosas, conquistadas em salas de aula e nas memoráveis festas e confraternizações numa época em que haviam poucas opções de lazer no Guará. As festas do GG, organizadas ou incentivadas pela diretora Teresa Maltese, conhecida muito mais pela animação do que pelo conhecimento pedagógico, eram referência para os adolescentes guaraenses, mesmo os que não estudavam lá mas não perdiam as festas da escola. O período ficou tão marcado, que até hoje um grupo se reúne anualmente na confraternização “Amigos do GG” para não deixar esquecer a tradição dos antigos encontros. Essa ligação ficou mais forte e mais frequente com o advento da Internet e das redes sociais. Ser amigo do GG é quase um parentesco para boa parte desse grupo, afinal, são muitos os casais que passaram a viver juntos depois de se conhecerem em salas de aula e nas confraternizações.
Mas o GG, ou CEM 01, não perdeu o seu charme e sua importância, embora não seja mais a principal ou a única referência de lazer da cidade, principalmente depois da Internet e da chegada de outras opções do mundo moderno. A referência agora é outra, por ser a a única das 22 escolas públicas do Guará que dispõe de ensino integral, ou seja, que oferece oportunidades e condições para o aluno, se quiser, praticar outras atividades extracurriculares no contraturno das aulas, como esporte, dança, música, gastronomia, robótica. No ensino integral, o aluno passa o dia na escola, que começa com o café da manhã, as aulas curriculares, almoço e lanche da tarte, entremeados com as atividades.
Começando este ano
Entretanto, a experiência da escola integral é nova e está começando praticamente em 2021, porque foi implantada em 2020 mas prejudicada pela pandemia. Para receber a nova experiência, o CEM 01 se preparou fisicamente, com uma reforma completa das suas instalações, e pedagogicamente, com a chegada de mais professores e instrutores.
À frente desse esforço está a diretora Cynara Martins Souza, no cargo desde 2014.Foi ela que teve a iniciativa de propor à Secretaria de Educação a ampliação das atividades a partir da disponibilidade do programa Escola Integral pelo Ministério da Educação. É também ela que corre atrás de emendas parlamentares e de recursos financeiros e materiais para melhorar as instalações e o ambiente da escola. Somente no ano passado foram investimentos mais de R$ 100 mil, através de recursos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF) e de emendas parlamentares, na reforma da cozinha, da piscina, das quadras poliesportivas e na pintura geral. A reforma da cozinha foi a mais significativa. “Como os alunos fazem cinco refeições na escola, trocamos o piso, que agora é uma cerâmica antiderrapante, as portas são metálicas e as prateleiras são de ferro com acabamento em mdf, foram instaladas novas pias e bancadas, exaustores para diminuir o calor do ambiente e os depósitos foram completamente separados: um armazena alimentos perecíveis e outro os hortifrutigranjeiros”, explica Cynara.
O CEM 01 é uma das duas únicas escolas públicas do Distrito Federal com piscina, pista de atletismo e três quadras poliesportivas. As obras foram custeadas pelo contrato de manutenção da Secretaria de Educação, junto com verba do PDAF destinada por emenda parlamentar. “A reforma da cozinha custou R$ 45 mil, recebemos emenda parlamentar de R$ 60 mil. O restante do dinheiro usamos em pequenos reparos e na compra de material. A parte elétrica foi feita com o contrato de manutenção”, enumera.
Um terço na escola integral
Mas nem todos os 1228 alunos entre 14 e 19 anos que cursam as três séries do Ensino Médio participam da escola integral. Um terço, 411 alunos, ficam de 8h30 às 18h na escola, às segundas, terças e quintas. “Queremos ampliar mais essa participação, à medida do aumento do interesse dos alunos e do oferecimento de mais atividades”, prevê a diretora. Ela explica que as atividades extracurriculares foram escolhidas a partir de uma pesquisa entre alunos e pais, quando puderam indicar o que gostariam de fazer ou que seus filhos fizessem no contraturno das aulas. Foram escolhidas oficinas de música, permacultura, alimentação saudável, biodiversidade, robótica, leitura, e esportivas como natação, hidroginástica, vôlei. Todas as atividades são acompanhadas por professores de Educação Física, instrutores especializados, psicólogos, pedagogos, orientadores educacionais e os 115 professores do quadro.
Cynara afirma que a escola integral tem promovido um importante crescimento psicossocial aos alunos que ficam na escola durante todo o dia. “Percebemos a evolução do sentimento de cidadania, quando passam a valorizar mais a escola como extensão de sua casa, se interagir melhor com seus colegas, professores e todos os outros servidores”, explica. “Quando o quando o aluno chega triste, assamos a reparar suas atitudes durante o dia e depois da interferência dos profissionais especializados ele retorna para casa com outro astral”, completa.
Para os alunos Alícia Andressa, 16 anos, Mateus Silveira, 17 anos e Sarah Marcela, 15 anos, a escola integral mudou completamente, para melhor, a agenda do dia a dia deles. “Além da oportunidade de praticar outras atividades, acabo me divertindo e fazendo novos amigos”, garante Alícia. “Ficar aqui é melhor do que ficar em casa em frente ao computador ou sem ter o que fazer”, diz Mateus. “O ambiente é acolhedor e diferente da rotina de nossa casa”, completa Sarah. “A escola integral acrescenta não somente para o aluno, mas para todo corpo docente e discente da escola, ao oferecer novas oportunidades e aumentar a interação entre todos os envolvidos”, afirma o professor de Educação Física, Márcio Soares, no GG desde 2015.
Comunidade de fora também participa
Mas a estrutura do GG não serve apenas aos alunos. A escola oferece atividades para grupos da comunidade, como Ginástica nas Quadras, natação, atletismo, paraolimpismo e capoeira. “Recebemos qualquer grupo organizado da comunidade que queira aproveitar as nossas instalações e nossa estrutura”, explica a diretora Cynara.
O GG – Ops! – CEM 01 é frequentado também por cerca de outros 250 estudantes de outras escolas do Guará e da Estrutural e por moradores da comunidade. A escola é um dos pólos do projeto Centro de Iniciação Desportiva (CID), da Secretaria de Edu-cação que tem o objetivo de proporcionar aos alunos da rede pública de ensino do DF, no contraturno escolar, o conhecimento técnico e tático de diferentes modalidades esportivas, buscando identificar diferentes aptidões e interesses dos estudantes, ampliando o processo de seleção e formação de futuros atletas.
Pelo projeto, a escola oferece aulas de atletismo, natação e esportes paraolímpicos para crianças e jovens matriculados em escolas públicas da Região Administrativa. Além disso, oferece um clube de corrida à comunidade e sedia as aulas do programa Ginástica nas Quadras, às segundas, quartas e quintas.