Casos de dengue triplicam no Guará

Vigilância Sanitária culpa os moradores por relaxamento nas medidas contra a proliferação do mosquito transmissor. E também pela concentração das preocupações com a pandemia da Covid

Dengue, zika and chikungunya fever mosquito (aedes aegypti) on human skin

Depois de um período controlada e até reduzida, a dengue volta a preocupar a comunidade guaraense e os órgãos de saúde do governo. Nos dois primeiros meses de 2022, foram 262 casos confirmados na cidade, contra 103 no mesmo período do ano passado. O Distrito Federal registrou 7.614 casos prováveis de dengue em 2022, segundo boletim da Secretaria de Saúde, divulgado no início de março. Os dados são referentes ao período de 2 de janeiro a 19 de fevereiro.
Os números representam um aumento de 329,7% no número de infectados, em comparação ao mesmo período de 2021, quando foram registrados 1.665 casos prováveis da doença no DF.
O aumento acima da média normal acendeu o sinal de alerta das autoridades sanitárias, que pedem mais atenção dos moradores para medidas que evitem a proliferação do mosquito transmissor.
A incidência da doença acontece após o período de maior intensidade das chuvas no Distrito Federal e pode ser creditada também à preocupação dos moradores com a Covid, o que teria provocado um relaxamento em relação à dengue, que, mesmo de recuperação mais rápida e segura, provoca sintomas até mais fortes do que os da pandemia e podem levar também à morte se não forem tratados corretamente.
Nos grupos sociais da cidade aumentam os relatos de casos de dengue no Guará, inclusive de famílias inteiras, e pedidos de providências ao governo. Mas, de acordo com a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental do Guará, Herica Cristins Pereira, a maior responsabilidade pelo aumento da incidência é dos próprios moradores, que tem facilitado a proliferação do mosquito transmissor Aedes aegypti em ambientes caseiros. “Estamos fazendo a nossa parte, que é vistoriar as áreas com maior quantidade de focos, instruir o morador, mas não adianta somente o governo fazer a sua parte. Essa é uma luta de mão dupla”, alerta. Ela garante que não faltam equipamento e nem técnicos para combater a doença no Guará, “mas, nenhuma estrutura, por maior e melhor que seja, vai funcionar sem a conscientização dos moradores”.

Para Herica Pereira, o combate ao mosquito tem ser feito principalmente pelos moradores
Fumacê não resolve sozinho

O núcleo da Vigilância Sanitária do Guará conta com 20 agentes somente para vistoriar a cidade e mais sete para a região atendida pelo núcleo, incluindo a Estrutural e o SIA, e cada um vistoria em média 20 ambientes (casas ou comércios) por dia. Herica conta que a maior quantidade de pedidos de providências é pelo carro do fumacê, aquele que borrifa inseticida no ar. “O fumacê só mata o mosquito que está voando e não combate a larva, que pode ficar mais um ano incubada e eclodir quando surge o ambiente propício. O que resolve é evitar o ambiente para o mosquito botar os ovos e eles se manterem por tanto tempo”, explica.
Para a chefe do núcleo da Vigilância Sanitária do Guará grande parte desses focos está em reservatórios de água das chuvas, uma prática cada vez mais incentivada, mas praticada sem os cuidados necessários para evitar a ação do mosquito transmissor. “´Recomenda-se lavar o recipiente dessa água com frequência e não deixar a mesma água acumulada por muito tempo, mesmo que esse recipiente esteja tampado. Qualquer fresta é suficiente para o mosquito entrar”, adverte Herica. Outro foco importante, segundo ela, são as caixas d`água mal tampadas ou com furos, os terrenos abandonados e lixo acumulado em áreas públicas por muito tempo.
Responsável pelo controle dos casos de dengue no Guará, Rosimeire Brandão, chefe do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Região Centro-Sul, completa as recomendações para evitar a ação do mosquito: “São cuidados simples, como trocar água do canil e dos viveiros, revisar calhas, poças no quintal… Basta reservar uma meia hora por dia para vistoriar esses pontos em casa. Se cada um fizer isso, iremos reduzir drasticamente os casos de dengue”, garante Rosimeire, que aponta as QEs 32, 34, 38 e 40 como os principais focos de dengue no Guará.

Recolhimento de carcaças

Outra ação importante de combate ao mosquito está ligada ao recolhimento de carcaças abandonadas nas áreas públicas da cidade, em seguidas operações coordenadas pelo Detran e Secretaria de Saúde. Em dezembro, foram retiradas mais 10 sucatas em áreas mapeadas pela Administração Regional e Secretaria de Segurança Pública e somente no segundo semestre do ano passado foram recolhidos 77 veículos abandonados no Guará. Nessa passagem, foram recolhidas carcaças da QI 19, QE 36, QE 40 e Polo de Moda.
Parte desse resultado está atrelado às constantes ações na cidade. A Administração Regional do Guará, em parceria com a Vigilância Ambiental inspecionou mais de 20 mil imóveis no ano passado, além da vistoria de vasos de plantas, ralos, vedação correta das caixas d’água, piscinas, calhas, entre outros potenciais criadores do mosquito Aedes aegypti, e, se necessário, aplicam medicamentos específicos para tratamento dessas áreas e prevenção. Comprovada situação mais grave, a Vigilância Ambiental encaminha o relatório para os órgãos de fiscalização. Os servidores orientam aos moradores sobre a necessidade da vigilância constante desses locais.

 

Saúde reforça combate ao Aedes Aegypti com tecnologia Aero System

Quarenta agentes de Vigilância Ambiental em Saúde foram capacitados para fazer a aplicação do Aero System no interior dos domicílios. A tecnologia, criada para eliminar imediatamente o Aedes aegypti dos ambientes, foi usada em 2016 e volta agora para reforçar o combate às arboviroses, sendo aplicada de forma estratégica em regiões prioritárias.
O método consiste na aplicação de aerossol dentro de casas e pontos comerciais para eliminar os mosquitos que possam estar escondidos atrás de cortinas, embaixo de camas e mesas e dentro de armários, por exemplo.
“Essa metodologia tem alta efetividade no bloqueio da transmissão das arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, por meio do controle químico do Aedes aegypti”, destaca Laurício Monteiro, diretor substituto da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde.
O principal foco é combater, em regiões com alto número de casos confirmados de dengue, zika ou chikungunya, as fêmeas do mosquito infectadas. “É mais uma técnica para usarmos no bloqueio dos casos dessas doenças”, enfatiza o coordenador de Controle Químico e Biológico do DF, Reginaldo Braga. “Como é um equipamento leve e o trabalho ocorre de forma rápida, é possível atender mais casas em menos tempo, com uso seguro para o agente e para a população”, explica Laurício.

Participação dos moradores
O engajamento da população é fundamental para auxiliar no combate ao Aedes aegypti. “Somente com a participação popular e ajuda de todos é que venceremos essa guerra”, diz o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero.
A colaboração é importante, tanto para receber e auxiliar o trabalho dos servidores da Vigilância Sanitária quanto nos cuidados para evitar a reprodução do mosquito dentro de casa. “É imperativo que todo mundo vire um agente de saúde e observe o seu quintal”, acrescentou o subsecretário.
Ele também esclareceu que o fumacê tem sido aplicado nas áreas do Distrito Federal onde há maior incidência do mosquito, das 4h às 7h da manhã ou das 18h às 21h. A população deve colaborar, abrindo portas e janelas, possibilitando a entrada do produto nos imóveis.
Outros órgãos do GDF também são aliados nesse combate, como Corpo de Bombeiros, DF Legal, Defesa Civil, Serviço de Limpeza Urbana, Secretaria de Segurança Pública e outros.