POR RENATA DOURADO
Demorou 30 anos para que o então mestre de capoeira, Nardelli Gifoni Gomes, estivesse novamente lado a lado com o seu aluno, Dalmo de Almeida Sérgio. Apesar da distância, a afinidade entre os dois guaraenses fez com que eles mantivessem o contato durante todas essas décadas. E o reencontro finalmente ocorreu no dia 15 de fevereiro, em Porto (Portugal).
Sérgio deixou o Guará e foi para o continente europeu por causa de uma paixão. E a musa inspiradora continua sendo a mesma há mais de 25 anos: a portuguesa Márcia Maria, com quem ele se casou e tem um filho, de 20 anos.
Nas memórias afetivas que carrega da infância e juventude, o mestre de capoeira está sempre presente. O professor ensinou não só a arte da capoeira, mas doses de autoestima e habilidades para enfrentar o racismo tão pouco falado naquela época, mas, sempre presente. “Nardelli era e é meu ídolo. Foi o primeiro rastafari que eu conheci. Parece contraditório mas, foi ele, um homem branco, que me ensinou a amar a cultura negra.”
Na época, Nardelli usava dreads, sendo o primeiro dreadlock de Brasília, além de ser o responsável pela propagação do reggae no Guará e Distrito Federal. As letras das músicas de Bob Marley o inspiraram a disseminar uma cultura de igualdade social e respeito ao próximo.
E Sérgio não deixa dúvidas que os ensinamentos marcaram sua vida. Na cabeça, hoje é ele quem carrega os dreads e muitas lembranças. “Eu me lembro de jogar no Clube de Regatas Guará e Nardelli na torcida gritando ‘vai lá negão!’ Tudo isso ajudou a trabalhar minha autoestima. Nardeli educou uma geração. Era um verdadeiro mestre.”
Sucesso na Europa
Sérgio é um artista. No Brasil, foi um dos precursores do break, um estilo de dança que faz parte da cultura hip hop. Também é instrumentista e cantou em bandas. Mas, foi na Europa que a veia artística ganhou força. É um escritor reconhecido em Porto e já publicou 7 livros de poesia.
Em todos os lançamentos, cerca de 300 pessoas prestigiaram o escritor. A maioria dos leitores é formada por portugueses. As obras de Sérgio estão em vários outros países como Austrália, Noruega e Grécia. Agora, ele e a companheira se preparam para o lançamento do oitavo livro. Ele escreve e ela fornece o suporte, além de fazer todo o projeto gráfico.
O reencontro foi rápido, mas suficiente para trazer à tona acontecimentos do Guará, na década de 80, como os famosos lazeres nas praças e as temidas rodas de capoeira. Quem sabe daí não nasce mais um livro, desta vez recheado de histórias que nos ajudem a conhecer melhor o nosso amado Guará?