Nascida e criada no Guará, morreu nesta segunda-feira, a advogada e ativista Maria Eduarda Soares de Mendonça, a Duda, 31 anos, após complicações provocadas pela dengue. Ela foi diagnosticada com a doença na sexta-feira, 8 de março, mas o quadro piorou no domingo.
Duda ganhou destaque pela luta contra o preconceito, em favor da inclusão e da valorização da vida, e palestrava sobre as causas desde os 10 anos de idade. A advogada também fazia parte do Movimento Maria Cláudia Pela Paz, uma entidade de assistência social que atua no Distrito Federal, coordenada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF).
Os 84 centímetros de altura e o grave problema de visão (nasceu com 20% da visão e já estava quase cega), decorrentes de uma síndrome rara, não a impediam de sonhar e colecionar uma série de conquistas. Pelo contrário, foram os motivos da luta dela contra o preconceito e pela valorização da vida.
Maria Eduarda, que era advogada e especialista em Ordem Jurídica e Ministério Público, foi diagnosticada em 2015 com displasia óssea esponjometafisária com distrofia de cones e bastões. Até 2018, havia registro de apenas 10 casos como o dela no mundo. A doença, que causa fortes dores nas costas, obrigava Duda a usar uma cadeira de rodas para se locomover para locais afastados. Ela fazia palestras sobre diversidade e inclusão e, em 2012, recebeu a Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). “O impossível não existe”, costumava dizer a pequena ativista, que nunca deixou que ninguém lhe dissesse que não seria possível realizar o que quer que fosse.
Descoberta por uma professora
Até os 8 anos de idade, nascida e criada na QI 04 do Guará I, Duda não sabia ler nem escrever, até que foi “descoberta” por sua professora Idalene Aparecida, da Escola Classe 04 (QE 9) que a ajudou na alfabetização. Desde então, apaixonou-se pela leitura. Contava com a ajuda da mãe e, mais tarde, de um leitor automático. Em 2018, formou-se em Direito, no Ceub já aprovada na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Chegou a classificar-se em terceiro lugar num concurso para juiz em Goiás. Estudou no Marista, que ofereceu a ela uma bolsa de estudos em reconhecimento à sua luta.
“Duda foi uma pessoa ímpar. Tinha uma inteligência admirável. Lutava como uma guerreira pelos direitos das pessoas com deficiência. Fazia palestras e encantava com sua fala cheia de conhecimentos e sorriso fácil”, recorda a professora Idalene Aparecida.
O pai, Modesto Antonio Alves de Mendonça, o Modestinho, conta que Duda mostrou inteligência rara desde o primeiro ano de vida. “Ela falava a língua portuguesa corretamente, embora tenha demorado a alfabetizar-se”, diz. A mãe, Maria Elza, acrescenta que ela estudava em média 10 horas por dia, principalmente sobre Direito, a doutrina espírita e a Maçonaria, instituição que o pai faz parte, enquanto ouvia música, outra paixão.